As causas do suicídio
Pesquisadores investigam as causas e motivos que levam alguém a tirar a própria vida.
As
causas do suicídio sempre foram um enigma para médicos, psicólogos e
pesquisadores interessados em comportamento. A auto-preservação é um dos
maiores instintos humanos, logo, a coragem de cometer suicídio deve ser
ainda mais forte. Mas o que motiva essa coragem?
Há mais ou menos um século, tanto o sociólogo Émile Durkheim, quanto o psicanalista Sigmund Freud apresentaram algumas explicações.
Durkheim, não surpreendentemente, viu as causas do suicídio em fatores sociais, como por exemplo, a incapacidade que uma pessoa tem de se integrar na sociedade, enquanto Freud enraizou sua explicação em impulsos instintivos, especialmente no que ele chamou de Instinto de Morte. Explicações mais recentes têm tendência a concentrarem-se em fatores como depressão, desesperança e dor emocional, mas nenhuma delas teve muito sucesso na resposta à pergunta fundamental sobre o suicídio: por que algumas pessoas se matam, enquanto outras continuam vivendo em circunstâncias idênticas?
Segundo o psicólogo da Universidade de Harvard, Matthew Nock, que estuda suicídio e auto-mutilação, alguns progressos foram feitos processando grandes quantidades de dados sobre suicídio. Os pesquisadores detectaram, por exemplo, que o índice mundial de suicídios está cada vez maior. O suicídio é a segunda principal causa de morte em pessoas entre 15 e 24 anos, vindo atrás de acidentes de carro. As mulheres são mais suscetíveis do que os homens a tentar suicídio, mas eles têm muito mais probabilidade de êxito.
A maioria das pessoas que cometem suicídio tem algum transtorno mental. Dentre estes, as principais causas de suicídio são:
O que as estatísticas não informam – que é o que os psicólogos mais querem saber - é exatamente o perfil das pessoas que estão em grupos de risco. A grande maioria dos deprimidos e pessoas sem esperança não cometem suicídio, então o que motiva alguns a fazerem isso?
Em 2005, o psicólogo Thomas Joiner, especialista em suicídio da Universidade Estadual da Flórida, cujo próprio pai cometeu suicídio, tentou responder a essa pergunta. Ao estudar estatísticas de suicídios, prestando atenção especial aos grupos com taxas acima da média, Joiner acredita ter encontrado um fio comum em que outros pesquisadores não perceberam. "Foi a primeira grande teoria do suicídio em pouco tempo", disse Nock.
Joiner basicamente propôs que as pessoas que se matam devem cumprir duas condições, além de se sentirem deprimidas e desesperadas. Primeiro, elas devem ter um forte desejo de morrer. Isso geralmente se dá quando as pessoas sentem que são uma carga intolerável sobre os outros, e também quando não se sentem parte de um grupo, e nem possuem alguém que possa lhes transmitir um sentimento de integração.
Em segundo lugar, e mais importante, as pessoas que conseguem cometer suicídio apresentam capacidade para cometer tal ato. Isto pode parecer óbvio, mas até Joiner apontar tal fato, ninguém tinha tentado descobrir porque algumas pessoas são capazes de se matarem, enquanto outras não. Não importa o quão sério alguém deseje morrer, o suicídio não é uma coisa fácil de fazer, pois o instinto de auto-preservação é muito forte.
Existem duas maneiras de uma pessoa que deseja morrer desenvolver a capacidade de sobrepor-se ao instinto de auto-preservação. Uma delas é treinando. Em muitos casos, uma primeira tentativa de suicídio é tímida, com cortes rasos ou uma ligeira overdose. Somente após várias tentativas que as ações são fatais.
Outra é a de se acostumar com experiências dolorosas ou assustadoras. Soldados e policiais que já foram baleados ou viram colegas feridos ou mortos, por exemplo, estão mais acostumados com a idéia da própria morte. Inclusive a taxa de suicídio em ambos os grupos estão acima da média. Da mesma forma, acontece com médicos e cirurgiões que testemunharam dor, lesões e morte, pois eles também se tornam mais capazes de ver eles mesmos nessas situações – aliás, a taxa de suicídio entre médicos é significativamente mais elevada do que entre a população em geral.
Outro grupo de risco é o de pessoas com anorexia. A anorexia como causa de suicídio foi examinada no trabalho original Porque as pessoas morrem por suicídio.
Isso só começou a ser percebido em 2006, durante um seminário em que dois ex-alunos já graduados de Joiner (Jill Holm-Denoma e Tracy Witte) foram assisti-lo falar sobre o risco de suicídio entre as pessoas com anorexia. Witte observou que a alta taxa de suicídio tinha duas explicações possíveis. Talvez as pessoas com anorexia não tentem se suicidar mais do que pessoas com outros transtornos mentais, mas a anorexia deixa o corpo tão enfraquecido que qualquer tentativa suicida tem mais probabilidade de êxito. Outra alternativa é que talvez a anorexia deixa a pessoa tão acostumada com a dor que ela se torna mais capaz do que outros de fazer o que for necessário para matar a si mesma (como no caso dos soldados e médicos).
De acordo com a hipótese de Joiner, a segunda explicação está correta. Então Holm-Denoma testou a afirmação, analisando nove suicídios escolhidos aleatoriamente, e o que ela encontrou conta uma história muito clara.
Segundo ela, essas pessoas teriam morrido independentemente do seu peso corporal. Elas se esforçaram para que o ato fosse bem sucedido. Três saltaram na frente de um trem. Duas se enforcaram. Outras duas tiveram uma grande overdose. Uma se envenenou com remédios para dormir e substâncias pra limpar vasos sanitários. A última se trancou no banheiro de um posto de gasolina e incendiou uma lixeira até que o monóxido de carbono produzido fosse o suficiente para matá-la asfixiada. Nove casos, obviamente, não são o suficiente para provar alguma coisa, mas o fato de todas essas pessoas terem tomado medidas drásticas já diz algo.
A anorexia, inclusive, oferece uma combinação de fatores que podem favorecer ao suicídio: isolamento social, com o intuito de evitar interações envolvendo comida, a sensação de se tornar um fardo insuportável para família e amigos e o costume a sensação de dor, causado tanto pela agonia da fome quanto por possíveis outros problemas desencadeados pela doença.
Um dos pontos mais fortes das explicações de Joiner, segundo Nock, é que elas são previsões testáveis. Por exemplo, será possível o desenvolvimento de testes psicológicos para medir o quanto uma pessoa se sente um fardo, ou frustrada, e então usar os resultados para prever quem poderá vir a cometer suicídio. Deverá também ser possível analisar as taxas de suicídio entre diversos grupos, com as características especificadas por Joiner.
Esses testes estão lentamente tomando forma. Trabalhos recentes de alguns dos alunos de Joiner mostraram que pessoas que sentem que são um fardo e também vivenciam sentimentos frustrantes, de não pertencer a um grupo, são mais propensas a ter pensamentos suicidas. Um segundo estudo concluiu que acontecimentos dolorosos e provocativos, como o tiro de uma arma ou entrar em uma luta, tendem a aumentar algo que Joiner chama de "capacidade adquirida" - um teste que mede a capacidade das pessoas de ferir ou matar elas mesmas.
O psiquiatra Scott Crow, da Universidade de Minnesota, estudou taxas entre pessoas com bulimia e constatou que elas também possuem índices de suicídio mais elevados, talvez pelas mesmas razões pelas quais as pessoas com anorexia tiram a própria vida.
Mesmo que diversos estudos apontem para a mesma direção, Joiner afirma que suas idéias ainda precisam ser bastante testadas, antes de se tornarem aceitas como uma explicação geral para o suicídio.Já é um começo, mas é necessário algo muito mais sistemático.
Afinal, uma melhor compreensão dos motivos que levam as pessoas a cometerem suicídio pode ajudar os clínicos a avaliar melhor quem está em risco, e encontrar novas maneiras de impedir tal ato. Psicoterapia em longo prazo, por exemplo, pode desencorajar as pessoas a se machucarem, diminuindo a probabilidade de que muitas venham a cometer suicídio.
Mas enquanto as pessoas se imunizarem a dor, se sentirem isoladas ou um peso para os outros, a teoria de Joiner diz que o risco do suicídio, infelizmente, continuará entre nós.
Dados sobre suicídio
Há mais ou menos um século, tanto o sociólogo Émile Durkheim, quanto o psicanalista Sigmund Freud apresentaram algumas explicações.
Durkheim, não surpreendentemente, viu as causas do suicídio em fatores sociais, como por exemplo, a incapacidade que uma pessoa tem de se integrar na sociedade, enquanto Freud enraizou sua explicação em impulsos instintivos, especialmente no que ele chamou de Instinto de Morte. Explicações mais recentes têm tendência a concentrarem-se em fatores como depressão, desesperança e dor emocional, mas nenhuma delas teve muito sucesso na resposta à pergunta fundamental sobre o suicídio: por que algumas pessoas se matam, enquanto outras continuam vivendo em circunstâncias idênticas?
Segundo o psicólogo da Universidade de Harvard, Matthew Nock, que estuda suicídio e auto-mutilação, alguns progressos foram feitos processando grandes quantidades de dados sobre suicídio. Os pesquisadores detectaram, por exemplo, que o índice mundial de suicídios está cada vez maior. O suicídio é a segunda principal causa de morte em pessoas entre 15 e 24 anos, vindo atrás de acidentes de carro. As mulheres são mais suscetíveis do que os homens a tentar suicídio, mas eles têm muito mais probabilidade de êxito.
A maioria das pessoas que cometem suicídio tem algum transtorno mental. Dentre estes, as principais causas de suicídio são:
- Depressão,
- Dependência a drogas,
- Transtorno bipolar,
- Anorexia,
- Esquizofrenia,
- Transtorno de personalidade.
O que as estatísticas não informam – que é o que os psicólogos mais querem saber - é exatamente o perfil das pessoas que estão em grupos de risco. A grande maioria dos deprimidos e pessoas sem esperança não cometem suicídio, então o que motiva alguns a fazerem isso?
Em 2005, o psicólogo Thomas Joiner, especialista em suicídio da Universidade Estadual da Flórida, cujo próprio pai cometeu suicídio, tentou responder a essa pergunta. Ao estudar estatísticas de suicídios, prestando atenção especial aos grupos com taxas acima da média, Joiner acredita ter encontrado um fio comum em que outros pesquisadores não perceberam. "Foi a primeira grande teoria do suicídio em pouco tempo", disse Nock.
Joiner basicamente propôs que as pessoas que se matam devem cumprir duas condições, além de se sentirem deprimidas e desesperadas. Primeiro, elas devem ter um forte desejo de morrer. Isso geralmente se dá quando as pessoas sentem que são uma carga intolerável sobre os outros, e também quando não se sentem parte de um grupo, e nem possuem alguém que possa lhes transmitir um sentimento de integração.
Em segundo lugar, e mais importante, as pessoas que conseguem cometer suicídio apresentam capacidade para cometer tal ato. Isto pode parecer óbvio, mas até Joiner apontar tal fato, ninguém tinha tentado descobrir porque algumas pessoas são capazes de se matarem, enquanto outras não. Não importa o quão sério alguém deseje morrer, o suicídio não é uma coisa fácil de fazer, pois o instinto de auto-preservação é muito forte.
Existem duas maneiras de uma pessoa que deseja morrer desenvolver a capacidade de sobrepor-se ao instinto de auto-preservação. Uma delas é treinando. Em muitos casos, uma primeira tentativa de suicídio é tímida, com cortes rasos ou uma ligeira overdose. Somente após várias tentativas que as ações são fatais.
Outra é a de se acostumar com experiências dolorosas ou assustadoras. Soldados e policiais que já foram baleados ou viram colegas feridos ou mortos, por exemplo, estão mais acostumados com a idéia da própria morte. Inclusive a taxa de suicídio em ambos os grupos estão acima da média. Da mesma forma, acontece com médicos e cirurgiões que testemunharam dor, lesões e morte, pois eles também se tornam mais capazes de ver eles mesmos nessas situações – aliás, a taxa de suicídio entre médicos é significativamente mais elevada do que entre a população em geral.
Outro grupo de risco é o de pessoas com anorexia. A anorexia como causa de suicídio foi examinada no trabalho original Porque as pessoas morrem por suicídio.
Isso só começou a ser percebido em 2006, durante um seminário em que dois ex-alunos já graduados de Joiner (Jill Holm-Denoma e Tracy Witte) foram assisti-lo falar sobre o risco de suicídio entre as pessoas com anorexia. Witte observou que a alta taxa de suicídio tinha duas explicações possíveis. Talvez as pessoas com anorexia não tentem se suicidar mais do que pessoas com outros transtornos mentais, mas a anorexia deixa o corpo tão enfraquecido que qualquer tentativa suicida tem mais probabilidade de êxito. Outra alternativa é que talvez a anorexia deixa a pessoa tão acostumada com a dor que ela se torna mais capaz do que outros de fazer o que for necessário para matar a si mesma (como no caso dos soldados e médicos).
De acordo com a hipótese de Joiner, a segunda explicação está correta. Então Holm-Denoma testou a afirmação, analisando nove suicídios escolhidos aleatoriamente, e o que ela encontrou conta uma história muito clara.
Segundo ela, essas pessoas teriam morrido independentemente do seu peso corporal. Elas se esforçaram para que o ato fosse bem sucedido. Três saltaram na frente de um trem. Duas se enforcaram. Outras duas tiveram uma grande overdose. Uma se envenenou com remédios para dormir e substâncias pra limpar vasos sanitários. A última se trancou no banheiro de um posto de gasolina e incendiou uma lixeira até que o monóxido de carbono produzido fosse o suficiente para matá-la asfixiada. Nove casos, obviamente, não são o suficiente para provar alguma coisa, mas o fato de todas essas pessoas terem tomado medidas drásticas já diz algo.
A anorexia, inclusive, oferece uma combinação de fatores que podem favorecer ao suicídio: isolamento social, com o intuito de evitar interações envolvendo comida, a sensação de se tornar um fardo insuportável para família e amigos e o costume a sensação de dor, causado tanto pela agonia da fome quanto por possíveis outros problemas desencadeados pela doença.
Um dos pontos mais fortes das explicações de Joiner, segundo Nock, é que elas são previsões testáveis. Por exemplo, será possível o desenvolvimento de testes psicológicos para medir o quanto uma pessoa se sente um fardo, ou frustrada, e então usar os resultados para prever quem poderá vir a cometer suicídio. Deverá também ser possível analisar as taxas de suicídio entre diversos grupos, com as características especificadas por Joiner.
Esses testes estão lentamente tomando forma. Trabalhos recentes de alguns dos alunos de Joiner mostraram que pessoas que sentem que são um fardo e também vivenciam sentimentos frustrantes, de não pertencer a um grupo, são mais propensas a ter pensamentos suicidas. Um segundo estudo concluiu que acontecimentos dolorosos e provocativos, como o tiro de uma arma ou entrar em uma luta, tendem a aumentar algo que Joiner chama de "capacidade adquirida" - um teste que mede a capacidade das pessoas de ferir ou matar elas mesmas.
O psiquiatra Scott Crow, da Universidade de Minnesota, estudou taxas entre pessoas com bulimia e constatou que elas também possuem índices de suicídio mais elevados, talvez pelas mesmas razões pelas quais as pessoas com anorexia tiram a própria vida.
Mesmo que diversos estudos apontem para a mesma direção, Joiner afirma que suas idéias ainda precisam ser bastante testadas, antes de se tornarem aceitas como uma explicação geral para o suicídio.Já é um começo, mas é necessário algo muito mais sistemático.
Afinal, uma melhor compreensão dos motivos que levam as pessoas a cometerem suicídio pode ajudar os clínicos a avaliar melhor quem está em risco, e encontrar novas maneiras de impedir tal ato. Psicoterapia em longo prazo, por exemplo, pode desencorajar as pessoas a se machucarem, diminuindo a probabilidade de que muitas venham a cometer suicídio.
Mas enquanto as pessoas se imunizarem a dor, se sentirem isoladas ou um peso para os outros, a teoria de Joiner diz que o risco do suicídio, infelizmente, continuará entre nós.
Dados sobre suicídio
- A cada ano, aproximadamente 1 milhão de pessoas do mundo inteiro cometem suicídio
- A cada 40 segundo, alguém morre tirando a própria vida
- A cada 20 tentativas de suicídio, uma é concretizada
- Desde 1965, o índice mundial de suicídios aumentou 60%
26/02/09 | Atualizado em 07/01/10
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