Coluna Econômica - 24/02/2012
O jogo da economia é uma mistura de teorias fundamentadas, teses mal comprovadas e chutes teóricos, utilizados para legitimar ganhos de setores.
É o caso do chamado neoliberalismo, a ideia de que bastaria deixar os mercados soltos que eles encontrariam os preços de equilíbrio. Aos governos bastaria remover todos os empecilhos ao funcionamento dos mercados e tentar atingir os chamados preços de equilíbrio através das taxas de juros do Banco Central.
Agora, um pequeno livro recém lançado - "O Universo Neoliberal do Desencanto", do economista José Carlos de Assis e do matemático Antonio Dória - narra uma história extraordinária de como três brasileiros, no início dos anos 90, já tinham derrubado os pilares centrais nos quais se sustentava o neoliberalismo.
Os três são o próprio Antonio Dória, o matemático e lógico Newton da Costa e o jovem economista Marcelo Tsuji.
A ideia de que a matemática poderia explicar todos os fenômenos foi questionada em 1931 pelo matemático alemão Kurt Gödel, radicado nos Estados Unidos.
Colocava-se em xeque, assim, a ideia de que a matemática poderia calcular tudo.
John Nash (personagem principal do filme "Uma mente brilhante"), através da teoria dos jogos, demonstrou que é possível uma situação tal em que todos os jogadores, perseguindo cada qual sua estratégia individual, chegariam a um ponto ótimo de equilíbrio.
John Nash (personagem principal do filme "Uma mente brilhante"), através da teoria dos jogos, demonstrou que é possível uma situação tal em que todos os jogadores, perseguindo cada qual sua estratégia individual, chegariam a um ponto ótimo de equilíbrio.
Dois matemáticos – Kenneth Arrow (1921) e Gérard Debreu (1921-2004) - beberam no “equilíbrio de Nash” e o transportaram para a economia: demonstraram que, na economia, o "equilíbrio de Nash" correspondia aos preços de equilíbrio.
Esses estudos serviram de base para toda a parafernália econométrica que sustentou o modelo atual de economia neoliberal e de atuação dos bancos centrais.
No início dos anos 90, Alain Lewis - um matemático negro genial, chamado de "o outro Nash" - mostrou que, em alguns casos específicos, os preços chegavam ao "equilíbrio de Nash" só que não era possível calcular o momento em que isto se dava.
Desde os anos 80, Dória e Newton da Costa vinham buscando respostas para um desafio: como prever quando um corpo entraria em caos (por exemplo, a asa de um avião vibrando cada vez mais, ou o movimento de um barco balançando de um lado para o outro até virar). E chegaram à conclusão que não existia um critério geral que pudesse calcular o momento em que situações entrariam em estado de caos.
Em 1991, Doria foi abordado por um aluno, Marcelo Tsuji, que trabalhava na consultoria de Delfim Neto. Tsuji contou que, utilizando a metodologia desenvolvida por Doria e Da Costa, tinha encontrado uma prova mais geral para o "teorema de Lewis" (que se aplicava para casos específicos).
Em síntese dizia que em mercados livres, de uma maneira geral chega-se ao tal "equilíbrio de Nash". Só que é impossível calcular o momento em que se dá esse equilíbrio. Se não dá para calcular, joga por terra toda a mistificação sobre taxa de juros neutra e PIB potencial - os principais pilares teóricos a sustentar a taxa Selic brasileira.
O trabalho ficou pronto em 1993, só foi publicado em 1998 e, hoje em dia, começa a ganhar reconhecimento internacional. Mas apenas depois que os fatos comprovaram as falácias das planilhas que legitimaram esses tempos de esbórnia e especulação.
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